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GENERAL BARTOLOMEU MITRE:
Breve Histórico

               

               Bartolomé Mitre Martinez nasceu em 26 de junho 1821, na capital argentina, Buenos Aires, filho de Ambrosio Estanislao de la Concepción Mitre e Josefa Martínez Whertherton, e é irmão de Emilio e de Federico. Político, escritor, jornalista, historiador e militar, Mitre foi Presidente da Argentina entre 1862 e 1868.

            Antes disso, todavia, já na vida política, como tantos outros opositores de Juan Manuel de Rosas, teve que exilar-se, atuando como soldado e jornalista no Uruguai, Bolívia, Peru e Chile. Seu pai foi um descendente veneziano de origem grega Ventura Demetrio Mitropoulos, que chegou a Buenos Aires no final do século XVII. Filho de militar, ainda jovem cursou a Academia Militar de Montevidéu.

            Em 1831, seu pai mudou-se com a família a Montevidéu, onde, em 1836, Bartolomeu ingressou na Escola Militar. Estudou artilharia, chegando ao posto de Alferes em 1839. Nessa época, também iniciou seu gosto pela escrita, produzindo poemas e periódicos. Em 1846, Bartolomeu foi a Bolívia, onde foi contratado para organizar a artilharia do exército local. Ele se envolveu com o círculo de amigos do Presidente, General José Ballivián, chegando a assumir a função de Chefe de Estado Maior do Exército boliviano.

            Ainda na Bolívia, foi Diretor do Colégio Militar. Entretanto, em 1847, Ballivián perde o poder, e Mitre é obrigado a deixar o país. Tentou retomar à Bolívia, porém, impedido, foi deportado ao Peru e, em seguida, ao Chile, país no qual atuou no jornalismo como corredator de Juan Bautista Alberdi, diretor do E/ Comercio, em Valparaíso, onde também publicou uma obra intitulada Manuel Bianca Encalada y Thomas Cochrane.

            Mais tarde, escreve no El Progreso, diário criado por Domingo Faustino Sarrniento (seu futuro sucessor na presidência), no qual prega a indivisibilidade territorial da soberania dos países das Américas e defende a democracia em um sentido amplo e o direito de livre pensamento para os estrangeiros ( desde que não atentasse contra a soberania dos países que os acolhessem), além de empreender campanhas em defesa do povo chileno.

            Após a queda de Juan Manuel de Rosas, antes 17º Governador de Buenos Aires, Mitre regressa à Argentina, liderando o levante da Província de Buenos Aires contra o sistema federal de Justo José de Urquiza. Ocupou diversos cargos de relevância no governo provincial depois que a cidade de Buenos Aires foi separada da Província. Foi, contudo, derrotado por Urquiza na Guerra Civil de 1859. Depois de vencer a Batalha de Pavón ( 1861 ), Buenos Aires se reincorporou à Confederação Argentina.

            Em 1862, Mitre foi eleito Presidente da Argentina, com o que se conquistou a definitiva unidade do país, iniciando um período de relativo progresso. Durante seu governo, organizou-se a administração da Justiça, que deixou de ser um assunto privado para ser uma atribuição do Estado. Além disso, em 1864, iniciava o maior conflito armado internacional ocorrido na América do Sul, a Guerra do Paraguai, travada entre o Paraguai e a Tríplice Aliança, composta por Brasil, Argentina e Uruguai, conflagração à qual se pôs termo apenas em 1870, com a morte do General paraguaio Francisco Solano López, na batalha de Cerro Cora.

            Talvez o livro de maior referência sobre a Guerra do Paraguai seja o de Francisco Doratioto, chamado "Maldita Guerra", no qual consta de uma miríade de passagens que revelam a proeminência de Bartolomeu Mitre para a vitória dos aliados na disputa continental. Alguns dos trechos mais importantes destacamos abaixo:

"Na verdade, tanto a historiografia conservadora como o revisionismo simplificaram as causas e o desenrolar da Guerra do Paraguai, ao ignorar documentos e anestesiar o senso crítico. Ambos substituíram a metodologia do trabalho histórico pelo emocionalismo fácil e pela denúncia indignada. Para uma análise mais precisa das origens e do desenrolar da guerra faltaram à historiografia conservadora, devido à época do seu surgimento, conhecimento metodológico e, mesmo, documentação acessível ao pesquisador. Dessas atenuantes, porém, não se beneficia o revisionismo, em sua vertente antiimperialista, que tem a explica-lo o momento histórico em que foi gerado e se desenvolveu, nas décadas de 1960 a 1980, quando as sociedades desta parte da América do Sul viviam sob ditaduras militares, que, apesar de castradoras das liberdades civis, reivindicavam para si a defesa do pensamento liberal. Uma das formas de combater essas ditaduras era desmoralizar seus referenciais históricos, seus ídolos - na Argentina, Mitre; no Brasil, o Duque de Caxias -, e seus alicerces ideológicos. Daí o espírito acrítico com que o mundo acadêmico aceitou e reproduziu, naquele momento, publicações "revisionistas" sobre a Guerra do Paraguai, que mistificavam Solano López e responsabilizavam o imperialismo britânico pelo conflito. Contudo, continuar a defender, hoje, essa interpretação somente pode ser resultado da ignorância histórica ou, então, da natural dificuldade de se reconhecer errado." (p. 20) "A derrota das tropas da Confederação, comandadas por Urquiza, para as forças de Buenos Aires, chefiadas por Bartolomé Mitre, na batalha de Pavón ( 17 set. 1861 ), causou forte impacto no governo paraguaio. Carlos López e Francisco Solano López ficaram alarmados com o desenrolar dos acontecimentos, pois "muitos temem o general Mitre". (p. 37) "Mitre não podia compor-se formalmente com o Império devido à reação interna que tal ato provocaria, quer entre os liberais autonomistas de Buenos Aires, quer em Entre Rios e Corrientes, onde havia aversão ao Brasil e a população tinha mais afinidade cultural com o Paraguai, pois todos falavam o guarani, do que com Buenos Aires. O presidente argentino era, na verdade, simpático ao Brasil, elogiando o regime político brasileiro e chegando, mesmo, a censurar o escritor chileno Benjamín Vicufla Machenna, por este utilizar-se de "palavras ocas como as de 'Império escravocrata"', pois, acrescentava, se a escravidão era um mal que existia na monarquia, nada se provava contra as instituições brasileiras. Estas, escreveu Mitre, "no liberalismo deixam muito atrás a muitas de nossas Repúblicas", que não sofriam nenhuma ameaça ou perigo pela existência do Império." (p. 72) "Cercada a Argentina por dois vizinhos em guerra", escreveu Mitre, "o Império era o que "pode fazer-nos maior mal, e o que até hoje nos fez mais bens", enquanto com o Paraguai, "podemos ter no futuro questões de interesse nacional" . E lembrava que também Urquiza se beneficiara, no passado, da aliança com o Brasil." (p. 73) "É esse Mitre, simpático ao Império não só por afinidades ideológicas, mas também por interesses concretos, que beneficiou a ação brasileira no Prata. O jornal liberal O Correio Mercantil, do Rio de Janeiro, revelava, em setembro de 1864, ter o presidente argentino "a melhor boa vontade conosco" e, inclusive, seu ministro da Marinha teria oferecido abastecimento de carvão aos vapores brasileiros que operavam na costa uruguaia. Era permitido que petrechos de guerra, entre eles 6 mil carabinas e seis canhões raiados, fossem retirados de Buenos Aires por uma canhoneira brasileira. A boa vontade do governo argentino era tal que permitia a Paranhos solicitar autorização para instalar Miguel Joaquim de Souza Machado, vice-cônsul imperial em Paissandu, como espião em Corrientes, "para informar-nos das ocorrências que possam interessar-nos do lado do Paraguai". A resposta foi positiva, a ponto de Elizalde informar ao governador correntino Manuel Lagrafia que os "agentes" brasileiros na província poderiam necessitar enviar "alguns oficios a seus superiores" em Buenos Aires. Lagrafia deveria enviar esses documentos ao chanceler argentino, "pelo [correio] expresso, sem perda de tempo". (p. 73- 74) "Os ataques paraguaios a Mato Grosso e Corrientes viabilizaram a formalização da aliança argentino-brasileira, à qual aderiu o Uruguai governado por Venâncio Flores. A aliança contra o Paraguai era parte de uma aliança maior, planejada por Mitre antes desses ataques, pela qual Argentina e Brasil estabeleceriam uma política de cooperação no Prata, exercendo uma hegemonia compartilhada em substituição às rivalidades e disputas que predominaram nas relações entre os dois países. Em 1 ° de maio de 1865 foi assinado, em Buenos Aires, o Tratado da Tríplice Aliança, contra Solano López, que estabelecia as condições da paz e também deveria servir de base para "que façamos [Argentina e Brasil] uma aliança perpétua, baseada na justiça e na razão, que será abençoada por nossos filhos"". (p. 157) "Mitre comandou outro Exército, composto de argentinos, orientais e da força brasileira que os acompanhava." (p. 182) "Mitre adotou uma postura pragmática e leal com o aliado brasileiro e o uruguaio, comportamento, aliás, inalterável durante toda a guerra". (p. 225) "Durante toda a batalha os argentinos estiveram sob a supervisão direta de Mitre que, inclusive, avançou com dois batalhões, ocupando o campo de batalha à noite." (p. 230) "[Mitre] Ratificou que o líder paraguaio o convidara a abandonar a aliança com o Brasil, pois afirmava não ter motivo para guerrear contra os argentinos, no que foi interrompido por seu interlocutor com a observação "permita-me observar-lhe que está falando com o general-em-chefe dos aliados". Mitre disse a Solano López para não ter ilusões sobre a marcha da guerra, pois as turbulências políticas na Argentina não paralisariam as operações militares aliadas. O líder paraguaio respondeu que, por isso mesmo, propusera o encontro, acrescentando que "o Império se engrandece e a República [argentina] se debilita", e perguntou sobre as condições para se negociar a paz. Seguiu-se o seguinte diálogo: - Negociaríamos - respondeu o general Mitre - tendo como base a renúncia de Va. Exa., porque não fazemos guerra ao povo do Paraguai, mas, sim, a seu governo. - Ah, não! Essas condições me as imporá Va. Exa. Depois de matar-me em minhas últimas trincheiras ... ("E cumpriu a palavra", acrescentou Mitre em sua exposição). - López chamou, em seguida, um ajudante que, ajoelhando-se, escreveu sobre o outro joelho alguma coisa ditada por López. Eram umas condições de acordo tendo como base a ruptura da aliança [da Argentina com o Brasil]. O general Mitre as leu e disse: - Limito-me a tomar conhecimento delas. Ficam reabertas as operações de guerra." (p. 242) "Mitre comandou o ataque sob o alcance das bombas inimigas e teve que trocar de cavalo, devido a ferimento causado no primeiro animal por um estilhaço. Em outro momento, o comandante-em-chefe ficou respingado de barro, resultante da explosão próxima de uma bomba. Em outros momentos da guerra, os demais chefes máximos aliados na guerra, Flores, Osório, Porto Alegre, Caxias, Paunero, Emilio Mitre e o conde d'Eu, também se expuseram ao fogo inimigo, em contraste com Solano López que evitava ficar ao alcance dos tiros." (p. 244) "Mitre recusou essa ideia [acerca da possibilidade de retirada da Argentina da guerra], ao afirmar que havia dois motivos para isso. De um lado, por uma questão de princípios, pois não cumprir um acordo internacional seria a desonra argentina e, de outro, por um aspecto pragmático, porque essa retirada iria contra os interesses da República. Mitre argumentava que se a Argentina rompesse a aliança teria como alternativa, ou manter-se neutra, esperando que o Império levasse a guerra adiante para tirar vantagens "mesquinhamente", ou, então, aliar-se a Solano López. Qualquer dessas possibilidades comprometeria o futuro argentino, pois "se o Paraguai triunfasse sobre o Brasil, nos tornaria sós e debilitados e se o Brasil triunfasse sobre o Paraguai, ficaria com as vantagens e nos faria pagar, com justiça, as consequências de nossa fraqueza." (p. 248 - 249) "A Argentina perdeu, entre mortos e feridos, cerca de 18 mil homens; dos pouco menos de 30 mil soldados que enviou para a guerra. Na política interna, à medida que a guerra contra Solano López se prolongava, aumentou o número de opositores à política de Bartolomé Mitre quanto à questão. Mitre, tal qual Pedro li, manteve-se firme na decisão de levar a guerra até o fim, ao afirmar, em sua mensagem ao Senado, em 1 º de maio de 1868: "Essa guerra que não buscamos, que não desejávamos ( ... ] era inevitável devido à natureza do poder despótico e irresponsável do governo do Paraguai, que constituía uma ameaça perpétua de seus vizinhos devido à concentração de elementos militares em seu território, militarizando, em massa, sua população para perturbar nossa paz, fomentando nossas divisões [políticas]; devido às questões econômicas referentes à liberdade de navegação dos rios e do comércio, originadas de sua política restritiva e exclusivista; e, finalmente, pela reivindicação de nossos limites legítimos e naturais [ ... ]. A guerra realimentou a oposição federalista interna e contribuiu para o surgimento de diferentes rebeliões contra o governo nacional, o qual, ao conseguir reprimi-las, se fortaleceu e se legitimou. De modo paradoxal, porém, o presidente Mitre, que se manteve intransigente em continuar a guerra e sufocar as rebeliões, embora vitorioso com as armas, saiu derrotado politicamente, ao assistir à vitória de um opositor, Domingo Faustino Sarmiento, na eleição presidencial de 1868." (p. 462 - 463) "O presidente Sarmiento enviou seu antecessor, Bartolomé Mitre, que era admirado no Brasil, em missão especial ao Rio de Janeiro. Dessa forma, foi assinado, em junho de 1872, um acordo que restabelecia a aliança, pelo qual 0 Brasil se comprometia a apoiar as posições argentinas nas negociações com 0 Paraguai." (p. 467) "No Uruguai, cruzavam-se os interesses dos governos argentino, brasileiro e paraguaio. Perante a tentativa de Montevidéu de estabelecer aliança com Assunção, o presidente Mitre reagiu e buscou compor-se com o Brasil. Favoreciam esse projeto a convergência ideológica dos governos argentino e brasileiro, exercidos por liberais, e a existência, pela primeira vez, de interesses concretos comuns, pois ambos não viam com bons olhos os blancos e tinham questões de fronteiras a tratar com o Paraguai. Mitre planejava acabar com a bipolarização histórica Buenos Aires - Rio de Janeiro, substituindo-a por um eixo de cooperação." (p. 473 - 474). "Principalmente os liberais ligados a Mitre pensavam em redirecionar as relações argentino-brasileiras, substituindo a disputa, que trazia atritos e instabilidade no Prata, pela cooperação, instrumento gerador de estabilidade e garantidor da paz na região. Tratava-se de projeto de uma verdadeira aliança estratégica argentino-brasileira, de uma "aliança perpétua" nas palavras do ministro das Relações Exteriores da Argentina, Rufino de Elizalde, que "baseada na justiça e na razão [ ... ] será abençoada por nossos filhos." (p. 484 - 485) "Historicamente precoce, a cooperação estratégica planejada por Mitre constituiu-se, de todo modo, em um precedente, a esperar um momento histórico mais favorável para sua realização." (p. 485)

            A participação da Argentina da Guerra do Paraguai tomou-se muito impopular no interior do país, em especial por jornalistas e intelectuais, que difundiam suas críticas ao povo, fortalecendo a oposição política ao Presidente. Bastante combalido politicamente, Mitre encerrou seu mandato em 1868, passando a presidência a Sarmiento. Em maio de 1869, Bartolomeu assumiu o cargo de Senador.

            Em 1870 comprou o jornal La Nación Argentina, rebatizando-o de La Nación, um dos jornais mais influentes da América Latina até hoje e que continua a ser dirigido por seus descendentes (https://www.lanacion.com.ar). Em 1872, por sua estima e respeito recíprocos com o Império brasileiro, foi enviado pelo Presidente Sarmiento para acordar em negociações a respeito dos limites territoriais e outras imposições sobre o subjugado Paraguai. Em 1876, escreveu sua primeira obra historiográfica, chamada Historia de Belgrano o de la Jndependencia Argentina. Em 1878 foi eleito Deputado Nacional.

            Em 1883 realizou uma viagem ao Chile para angariar informações para encerrar sua segunda grande obra, biográfica, Historia de San Martín y de la Emancipación Americana, livro ao qual dedicaria o restante daquela década. Também traduziu ao espanhol a obra "Eneida", de Virgílio. Em 1893, assumiu o cargo de Grão-Mestre da Grande Loja Maçônica da Argentina. Em 1894, foi novamente eleito Senador pela Argentina. Passou seus últimos anos de vida dedicando-se à direção do editorial de La Nación e a traduzir "A Divina Comédia", de Dante Alighieri.

            Faleceu em 19 de janeiro de 1906. Foi uma das pessoas mais homenageadas em vida na história da Argentina. Possui um museu com seu nome. Foi casado com Delfina María Luisa de Vedia Pérez, a 11 de janeiro de 1841, com quem teve seis filhos: Delfina Josefa Ambrosia Mitre y Vedia, Bartolomé Nicolás Manuel Mitre y Vedia, Josefina Benita Mitre y Vedia, Jorge Mariano Mitre y Vedia, Emilio Edelmiro Mitre y Vedia e Adolfo Emiliano Mauricio Mitre y Vedia.

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